Por G1
Publicado em 05 de outubro de 2017 às 15:23H
‘Enquanto medalhistas olímpicos buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do COB guardavam o seu ouro na Suíça’, afirmou procuradora. Lá, MPF descobriu 16kg de ouro de Nuzman.
Investigação diz que Carlos Nuzman é ligado a membros de organização de Sérgio Cabral
Em depoimento, Leonardo Gryner admitiu que houve um encontro, primeiramente em Berlim, entre ele e Lamine Diack e depois em Paris, onde Sérgio Cabral apresentou Arthur Soares a Gryner. “Ali são feitas as tratativas”, destacou a procuradora, referindo-se a um dirigente que recebeu U$ 2 milhões para votar no Rio na eleição realizada em 2009.
“Enquanto os medalhistas olímpicos buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suíça. A realização dos Jogos foi abastecida com dinheiro público”, afirmou Fabiana.
O ex-diretor de operações do comitê Rio-2016 Leonardo Gryner chega na sede da Polícia Federal após ser preso no Rio de Janeiro (Foto: Bruno Kelly/Reuters)
Esquema de ‘ganha-ganha’
A “farra dos guardanapos” aconteceu no dia 14 de setembro de 2009 em Paris, e no dia 23 do mesmo mês ocorreu a primeira transferência bancária confirmada por meio de cooperação internacional da Metlock para a conta de Papa Diack, que é filho de Lamine Diack. Lamine é membro do COI que participou da votação.
“Com a busca e apreensão, foi chegando a ter outras provas que demonstram, principalmente, que existia um esquema de ‘ganha-ganha’ nessa organização criminosa. A organização criminosa através de, ao menos, quatro pessoas diretamente envolvidas na organização de Cabral, recebeu — de alguma forma — benefícios na realização da Olimpíada”, explicou o procurador federal Rodrigo Timóteo.
Segundo o MPF, já foram denunciados os esquemas referente a obras do Arco Metropolitano, da Linha 4 do metrô, da reforma do Maracanã, da Transcarioca e da recuperação ambiental da Bacia de Jacarepaguá.
“O que mostra que os Jogos Olímpicos foram planejados e estruturados tendo trazido um ciclo econômico bastante interessante para essa organização criminosa e foi uma das melhores estratégias de capitalização política e financeira também pra que a organização criminosa pudesse atuar. A partir dos Jogos Olímpicos veio uma avalanche de investimentos não só privados, mas públicos também”, explicou a procuradora.
Ainda segundo o Ministério Público, a investigação encontrou um dossiê produzido por Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde do estado, que também foi fundamental para a elucidação do esquema criminoso, assim como a troca de e-mails entre suspeitos.
“Além dos e-mails, durante as buscas foi localizado um dossiê que foi elaborado e produzido por Sérgio Côrtes, outro membro da organização criminosa que, inclusive, está preso. Esse dossiê foi produzido a pedido do senhor Carlos Nuzman em face de uma pessoa que era seu opositor”, afirmou a procuradora Fabiana.
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Arthur Nuzman chega na sede da Polícia Federal após ser preso no Rio de Janeiro (Foto: Bruna Kelly/Reuters)
Compra de votos em bloco
Nuzman e Gryner receberam um email de Papa Diack, que comprovaria a compra em bloco de votos de vários países africanos, segundo o MPF.
Na mensagem, Diack diz estar envergonhado com o presidente (Nuzman) porque “nossos amigos não confiam mais em nós”. “Amigos”, diz o MPF, seriam os outros eleitores africanos. “Faz, portanto, clara referência aos acertos realizados entre Nuzmann e Gryner e africanos que votaram para a escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague (…) A referência a “our friends” (nossos amigos) está a indicar a votação em bloco na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, por parte dos africanos”, afirma o MPF. A cidade dinamarquesa foi o palco da votação da eleição.
De acordo com o Ministério Público Federal, inicialmente, Arthur Soares foi quem depositou os valores de US$ 2 milhões para a compra do voto de Lamine Diack. Com o valor foi aberto um empreendimento hoteleiro na Barra da Tijuca que era acobertado desde o início por contratos com o Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016.
“Outro integrante que está preso, o senhor Marco de Luca é contratado para prestar serviço ao Comitê, no valor de R$ 90 milhões para prestar serviço de alimentação e hospitalar para o comitê organizador. Além dessas duas pessoas temos também a contratação de empresas do Jacob Barata Filho para prestação de serviços de transportes para o Comitê Organizador dos Jogos 2016, além da já citada participação do senhor Sergio Côrtes, a pedido do Carlos Arthur Nuzman, para fazer um dossiê para uma das pessoas que eram concorrentes dele na eleição do COB”.
O que dizem as defesas
De acordo com a defesa de Jacob Barata, todos os contratos mencionados pelo MPF são privados e o desempenho dos serviços de transporte pertinentes a esses contratos foi amplamente elogiado pela imprensa mundial. Esses contratos foram pautados por critérios de capacidade técnica e a sua execução foi acompanhada por empresas de auditoria de reputação inquestionável.
Segundo a defesa de Nuzman, a medida adotada com a prisão foi severa. “Vou me inteirar dos fatos agora. Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida. É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal”, afirmou o advogado Nélio Machado, na manhã desta quinta, após a prisão de Nuzman.
Em nota, o COI disse que está cooperando e pediu às autoridades brasileiras informações completas para dar seguimento às investigações internas da comissão de ética do COI. O Comitê afirmou também que sua comissão de ética pode tomar medidas provisórias contra Nuzman.
Send this to a friend