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Tucuruí, 06 de May de 2024
Sistema Floresta

Produção de biogás já é uma realidade na comunidade quilombola de Nova Jutaí, em Breu Branco

Por Floresta News
Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 15:49H

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O que fazer com os resíduos gerados pelas populações é um grande problema global. Uma parte da solução está baseada no conceito de reaproveitamento e reutilização. É nesse contexto, onde a gestão e tratamento de resíduos orgânicos vão gerar biogás para cozinhar e fertilizante líquido para regeneração da mata nativa e cultivo de hortaliças, que entra o projeto inaugurado oficialmente na última terça-feira (20/12) na comunidade quilombola de Nova Jutaí, área rural do município de Breu Branco, no sudeste do Pará. Lá na localidade, a boa prática de utilização de resíduos já está funcionando e gerando o gás utilizado para cozinhar a merenda, que é servida para os 307 alunos do ensino infantil e fundamental do colégio municipal daquela localidade.

A própria produção de gás de cozinha está sendo possível graças a tecnologia social implementada na comunidade pela parceria entre o Instituto de Estudos Sustentáveis e Tecnológicos da Amazônia (AmazôniaTec) e a Dow, que encontraram na instalação de um biodigestor, a solução para a destinação dos resíduos orgânicos, a geração da energia sustentável e limpa, além da produção do fertilizante líquido utilizado na horta do colégio.

Boa parte dos moradores da comunidade quilombola foram ao colégio municipal participar da cerimônia de entrega do equipamento que faz parte do Projeto Quilombo Sustentável.

O Quilombo Jutaí, em Breu Branco, foi certificado como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares. Nova Jutaí, está distante do centro urbano do município de Breu Branco a aproximadamente 55 quilômetros. O povoado tem uma população estimada em 880 habitantes, distribuídos em 103 famílias.

Segundo o presidente do Instituto AmazôniaTec, Rodrigo Hühn, o projeto Quilombo Sustentável possibilita à comunidade acesso à tecnologia social, o que pode promover no futuro a transformação da realidade social e econômica de forma sustentável, já que o biodigestor é uma tecnologia utilizada para decompor a matéria orgânica, dejeto humano e esterco animal para gerar energia através do biogás.

O projeto é desenvolvido com o apoio da empresa Dow e tem possibilitado a escola se transformar em um polo de boas práticas ambientais. A intenção dos realizadores do projeto é replicar para outras escolas e logradouros na cidade e no campo no município de Breu Branco e região.

O biodigestor funciona da seguinte forma: são colocados nele os resíduos orgânicos (restos de alimentos e restos de plantas). Esse material irá se decompor dentro do equipamento fechado, na ausência de oxigênio e na presença de micro-organismos, promovendo o processo de biodigestão e gerando como produtos o biogás e o fertilizante líquido.

Na Amazônia, grande parcela das cidades não possui coleta de lixo eficiente. Um serviço essencial, mas que é muito insuficiente. Nas comunidades rurais da região do Lago de Tucuruí e Baixo Tocantins, algumas localidades têm a coleta do lixo feita apenas uma vez por semana. Problema que obriga a queima de parte do lixo produzido.

A realidade é que essas comunidades ainda têm acesso precário a tecnologias, energia elétrica, técnicas modernas de cuidados agrícolas, saúde e educação básica.

Conforme Rodrigo Hühn, a inovação e a transformação devem estar andando lado a lado visando a expansão e o sistema de biodigestores apresentado pelo Instituto AmazôniaTEC. A iniciativa é fruto de uma parceria internacional, que em sua menor escala proporciona a retirada de uma tonelada de lixo orgânico do meio ambiente, gerando diariamente cerca de 3 horas de gás para cozinha, além de 10 litros de fertilizante líquido através de gotejamento, dando a destinação correta aos resíduos orgânicos através de uma forma de compostagem acelerada com um baixo impacto ao meio ambiente.

José Moreira, presidente da Associação Afro-brasileira Quilombola de Jutaí, é um dos filhos da comunidade que não mediu esforços para que a tecnologia fosse implantada na localidade. Para ele, o equipamento é sinônimo de desenvolvimento. E é de forma sustentável que a comunidade quer promover a sua imagem e atrair investimentos. “Quem sabe no futuro sermos um polo turístico reconhecido pelas boas práticas ambientais”, analisa Moreira.

A economia da comunidade de Jutaí está voltada, principalmente, para a atividade agrícola de pequeno porte como a mandioca, arroz, milho, feijão, cacau e frutas, que garantem a subsistência da comunidade, além da pesca e da criação de animais de pequeno porte. São esses resíduos que servirão de base produtiva para o gás utilizado no preparo dos alimentos para os alunos do colégio.

A diretora da escola Jutaí, Eli de Souza Vieira, foi quem deu as boas-vindas aos visitantes e falou com entusiasmo sobre as melhorias que a utilização do equipamento já está proporcionando para os funcionários e os estudantes.

Para ela, cada vez mais é necessário discutir a questão do impacto social e ambiental na vida das comunidades e a nova tecnologia chama a atenção dos pais e alunos por ser de fácil utilização. “Já estamos utilizando o equipamento para preparar o lanche servido na escola. No início as merendeiras e os alunos até estranharam, mas não há diferenças do gás comum para o gerado no biodigestor. Ele é bem mais claro e sem cheiro, mas cozinha do mesmo jeito os alimentos. Uma conquista de todos aqui”, explica Eli.

Mais que cozinhar os alimentos, produzir fertilizante e contribuir para a redução dos resíduos orgânicos, a tecnologia aponta para o futuro e ajuda a conscientizar os estudantes sobre a importância da educação ambiental. “Se queremos ser desenvolvidos, temos de começar pelo que fazemos com o lixo que geramos”, observa a diretora.

Desenvolvimento sustentável

A professora Ana Célia acredita que o desenvolvimento social das comunidades tradicionais pode ser alcançado por meio de parcerias e interesse de órgãos, ONGs e autoridades.

Para ela, que é filha de Jutaí e descendente de lideranças quilombolas, governos, entidades do setor privado e organizações sociais podem e devem, na opinião de Célia, alinhar estratégias que foquem no desenvolvimento sustentável. “A comunidade quer crescer e se desenvolver e isso só é possível quando há um interesse comum. Por isso a gente abraça os projetos que podem ajudar a nossa comunidade a melhorar”, diz a professora.

O uso do biodigestor para atender inicialmente os estudantes de Jutaí está inserido em um modelo inédito de sustentabilidade na Amazônia, fruto da iniciativa do Instituto AmazôniaTec.

A adoção do projeto fortalece a educação ambiental, mas também pode diminuir a incidência de vetores de doenças na comunidade, como roedores. A partir da transformação dos resíduos em biofertilizantes (adubo orgânico líquido), a produção de alimentos terá menos incidência de defensivos químicos e a comunidade terá maior segurança alimentar.

A conscientização ambiental da comunidade quanto aos resíduos e sua valorização poderá resultar no futuro a implementação de um modelo de gestão comunitária e descentralizada de resíduos.

A organização não governamental atua desde 2016 propagando tecnologias sociais de forma online e offline. O foco é gerar, disseminar e aplicar conhecimento científico e tecnológico, sempre promovendo a transformação da realidade social e econômica dos povos da Amazônia de modo sustentável.

Rodrigo Hühn, explica que o instituto acompanha as demandas das regiões mais remotas, como o alto custo de geração de energia, impactos ambientais e a questão logística que impactam diretamente a vida do produtor rural.

Com a iniciativa, ainda em processo inicial, fomenta a conscientização ambiental e as boas práticas de desenvolvimento sustentável. No futuro, a geração de energia de biodigestores vai proporcionar para a escola uma autonomia no uso de gás de cozinha (Gás liquefeito de petróleo – GLP) além de uma diminuição expressiva dos resíduos orgânicos que teriam destinação para o lixão do município.

A partir de agora, boa parte desse material, ao invés de ir para o lixo, vai para o biodigestor que retroalimenta o processo. Como ganho extra, a escola gerará o fertilizante para a pequena produção de hortaliças que compõem a merenda escolar e poderá ser doado para os pequenos agricultores da comunidade.

Texto Denis Aragão

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